O coração é responsável por bombear sangue para todas os
outros órgãos com o objetivo de mantê-los funcionando corretamente para que
seja possível nossa sobrevivência, mas às vezes, confesso, que gostaria que ele
fizesse a função contrária, pois é difícil acreditar que falando daquela coisa
tão traiçoeira, que nos faz cair em ilusões, que aperta e que dói, seja o mesmo
órgão que nos faz acordar e dormir todos os dias. Ele não pode ser tão vital
assim. É desumano.
Acredito que ao criar o nosso coração, Deus não pensou nas
poucas e boas que passaríamos com ele, e por mais que seja avançada as opiniões
dos nossos especialistas, até hoje ninguém nunca conseguiu me explicar para que
serve o coração quando falamos da anatomia do amor. Para acumular tristezas?
Para apertar quando estamos com ciúmes? Para se derreter todo quando a pessoa
que amamos sorri para nós? Para apertar de saudade? Ou para doer de incertezas?
Pode até ser egoísmo meu, mas eu não gosto do coração. Meu desejo é que ele um
dia possa ser substituído por algo que não se apaixone e seja esperto o
suficiente para não cair em armadilhas. Algo que não se derreta ao receber
abraços, e que não pulse mais veloz ao receber um beijo, algo que saiba dizer
não e que saiba discutir sem lágrimas como efeitos colaterais. Mas acima de
tudo, desejo mesmo um cardiologista que possa enxergar lá dentro o vírus que
vem de fora.
O coração às vezes é tão venenoso, que transforma algumas
pessoas em seres insensíveis demais para se relacionar com os outros, e essa,
talvez, seja a pior doença.
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